Comunico aos leitores que o blog encerra aqui suas atividades. Como tudo muda na vida, também mudamos. De cara e endereço, mas não da paixão pelo cinema. Agradeço às visitas e comentários, pois esta é razão de ser de um blog. Maiores esclarecimentos, acesse nossa nova sede virtual:
"Mandei um rapaz para a cadeira elétrica em Huntsville. Fiz a prisão e testemunhei. Ele matou uma menina de 14 anos. O jornal falou em crime passional, mas ele me contou que não houve paixão alguma. Ele me contou que sempre planejou matar alguém. E se o soltassem faria de novo. E sabia que ia para o inferno 15 minutos depois de morrer. Não sei como reagir a isso. Não sei mesmo. Os crimes que vemos hoje são difíceis de compreender. Não é que eu tenha medo disso. Sempre soube que tínhamos que estar dispostos a morrer para trabalhar nisso. Mas eu não estou disposto a me arriscar à toa, sair por aí e encontrar uma coisa que não compreendo."
Hoje é dia de Oscar... Com vocês, um dos mais improváveis entre todos os seus vencedores. Desestruturante retrato de um gênero, se apropria de seus elementos mais consagrados para reinventar um novo oeste selvagem. O clássico embate homem/facínora através de uma sublime viagem através do espelho, onde o velho se curva, vencido, ao novo que chega cruel e impiedoso. Um melancólico canto épico de morte e renascimento para um pedaço de mundo inexoravelmente preso ao domínio das lendas...
Foram muitas as tentativas de se diminuir o Coringa de Nicholson após a visceral criação de Ledger para o Cavaleiro das Trevas. Pura besteira... Personagem complexo como poucos nos quadrinhos, é terreno fértil para variadas possibilidades interpretativas. Trilhando caminhos diversos, de acordo com as diferentes propostas de adaptação da obra, cada qual triunfou onde poderia triunfar. Ambos geniais! Em meu imaginário, Nicholson permanece inabalado...
Como morcegos permeiam de forma contundente o imaginário vampírico, nada mais justo que aproveitar meu passeio a Transilvânia salientado pelo Druida Camulogênio para falar do Batman de Burton. Uma insana e personalista visão do consagrado herói que, alegórica e expressionista, reconduziu Batman e todo o universo que o circunda às sombras de onde nunca deveriam ter saído. Momento marcante de minha infância...
Entre os inúmeros elementos que poderia enumerar para justificar meu gosto por filmes de vampiros, um dos que mais se destacam é o fascínio que tenho em acompanhar a maneira como os diferentes diretores conduzem todo o processo de transposição da natureza humana de um determinado personagem à sua nova identidade orgânica. Alvo das mais variadas soluções cênicas e narrativas, tornou-se terreno fértil à construção de inesquecíveis seqüências cinematográficas. Abaixo, uma grande cena de Cronos...
Qual a origem dos vampiros? Com esta ousada questão em mente, o hoje badalado Guillermo Del Toro presentearia o mundo do cinema com seu primeiro cartão de visitas. Rompendo com o domínio do eminentemente sobrenatural, Cronos instiga ao jogar sobre o mito um olhar alquímico. A maldição como fruto da incessante busca da humanidade pela ampliação de suas possibilidades inatas. Uma improvável e subvertora invencionice repleta de excêntricas e melancólicas ambientações. De humor doentiamente cinematográfico, é mais uma nova luz que se lança sobre o inesgotável universo vampírico...
E segue adiante nosso cinecortejo vampírico. Pensado como contraponto afetivo ao fenômeno Crepúsculo, tornou-se para mim um rito de reconstituição de antigos espaços de memória. Entrevista Com o Vampiro: A obra que uniu o grande Neil Jordan aos três maiores símbolos sexuais do cinema nas últimas décadas. Gótico e espetaculoso, exacerba os resquícios de humanidade subsistentes à condição vampira para construir uma saga com fortes tintas homoeróticas e existenciais. O vampirismo como símbolo da inquietude primal diante de nossa natureza mais íntima e profunda.
Absolutamente encantador... Inusitada e irreverente junção de máfia italiana com vampiros, Inocente Mordida é um típico produto do universo imagético do ótimo John Landis. Equilibrando-se perfeitamente entre o grave e a graça, seduz pela forma como insere todo um naturalismo à atmosfera essencialmente fantástica onde se desenrola a ação. Cinema de minúcias, confere aos seus vampiros uma verossimilhança nada comum ao gênero, tornando-os críveis para além de seu universo cênico, como se realmente pudessem viver entre nós.
É tempo de Oscar. É tempo de se reduzir qualquer debate a uma estéril quantificação de estatuetas arrebanhadas. Mas o Oscar tem sua força. Estar no centro da festa marca uma obra para sempre. Para um cinéfilo como eu, ver os Irmãos Coen, ícones do cinema independente americano, serem premiados pela Academia foi marcante. Foi como ver toda produção nascida da ruptura provocada pela inevitável assimilação da "Nova Hollywood" pela indústria, ganhar seu atestado de maioridade, sua legitimidade perante o mundo. Inesquecível...
Ancestral mito tcheco, feito filme pelas mãos do mestre surrealista Jan Svankmajer. Esta é uma velha lenda sobre uma raiz em forma de bebê, que ganha vida pelo desejo de maternidade de uma mãe frustrada, tornando-se assim, uma fera devoradora de tudo que passa pela sua frente. Vigoroso artesão de imagens, Svankmajer toma para si a narrativa, modernizando-a ao mesmo tempo em que mantém seu sentido fabular, fundindo com perfeição seus climas de melancolia e delírio sarcástico ao tradicional conto popular. Uma aula de cinema.
Ser meramente uma celebridade basta? Em uma era voltada ao culto à fama, tal questão pode ganhar os mais intricados contornos. Pois foi em meio à enxurrada de talentos fugazes que nos são lançados continuamente, que uma jovem atriz conseguiu chamar minha atenção. Estou falando de Ellen Page, que desde Juno não se cansa de me surpreender. Abaixo, o trailer de Mouth to Mouth, uma bela alegoria junkie protagonizada pela gracinha em questão. Pelo visto, minhas musas Scarlett e Natalie fizeram escola.
A tv apresentou-me este filme que me levantou uma série de questões. Até onde as estéreis polêmicas levantadas pela igreja católica se inserem em uma estratégia midiática para nossos tempos modernos? Antecipando assuntos que tornaram-se controvérsia à época do lançamento de "Código Da Vinci", não causou nem um décimo do escândalo gerado pelo sucesso de Dan Brown. Curioso, porém raso, assemelham-se até mesmo em suas qualidades e defeitos. Vale a conferida e também a questionada.
Não sei quem mata mais/a fome, o fuzil ou o ebola?/Quem sofre mais/os presos daqui ou de Angola?/O que nos resta é espalhar que Deus existe/agora é a hora/Por que a paz plantada aqui/irá dar flor lá fora/Corre perigo, INVASOR vacilou/Presa fácil virou/Eu só não posso me esquecer de lembrar/Sei que, o que é certo é certo/eu me preservo/Corre perigo, INVASOR vacilou/Presa fácil virou/Eu só não posso me esquecer de lembrar/Sei que, o que é certo é certo/eu me preservo/
Um Hades contemporâneo. Assim pode ser caracterizada a periferia de São Paulo. Um mundo inferior, dominado por apavorantes mistérios, inatingível à compreensão de quem não o pertence. Incômoda chaga a macular o tecido urbano da cidade sonhada pela elite ausente de culpa, é desse bárbaro e imundo lodo que emerge o temido invasor. Trazido à luz pela sujeira que o constitui, não se contentará com pouco. E agora, o espanto e a desproteção rondará suas casas, suas vidas para todo o sempre.
Imagine there's no Heaven/It's easy if you try/No hell below us/Above us only sky/Imagine all the people/Living for today/Imagine there's no countries/It isn't hard to do/Nothing to kill or die for/And no religion too/Imagine all the people/Living life in peace/You may say that I'm a dreamer/But I'm not the only one/I hope someday you'll join us/And the world will be as one/Imagine no possessions/I wonder if you can/No need for greed or hunger/A brotherhood of man/Imagine all the people/Sharing all the world/You may say that I'm a dreamer/But I'm not the only one/I hope someday you'll join us/And the world will live as one/
Certos filmes possuem a capacidade de tocar uma pessoa ainda que esta, a principio, não tenha a capacidade de compreende-los. Pois minha relação com "Os Gritos do Silêncio" passa por esta questão. Descoberto em meus 12 anos, desde o primeiro olhar causou em mim impacto profundo. Mesmo sem saber do emaranhado político gerador de tamanha desumanidade, havia algo naquela obra que negava necessidades de grandes operações racionais ou objetivas. Habitando o domínio da subjetividade, dos sentimentos, este algo era a impactante interpretação de Haing Ngor, um colosso que, apenas por si, seria grande razão para se laurear esta obra com a eternidade...
Ainda completamente tomado pela beleza de "Onde Vivem os Monstros", estava com muita vontade de escrever sobre Spike Jonze... Como já havia disponibilizado "Quero Ser John Malkovich" e como ainda estou degustando e digerindo todo o universo de "Onde Vivem os Monstros", sobrou para os lados de "Adaptação", um ousado retrato de um artista quando bloqueado. Não pela forma, mas sim pela audácia em costurar uma ilusão magistral, a ousadia do filme reside na maneira como assume seu convencionalismo. Jogando o tempo todo com o público, "Adaptação" é puro encanto e ilusão hollywoodiana. Velhas armas, roupagem moderninha...
Virtuosístico exercício estético acerca do poder da imagem no mundo contemporâneo. Dos simulacros, das zombeteiras realidades inventadas que nos cerca e regula. Da sagração da tecnologia como arma redentora de nossas fraquezas. A imagem, Deus maior de nossa condição pós-moderna. Tornada onipresente pelo advento da tela, é nela, apenas nela, que habita a verdade, uma colcha com retalhos de pequenas mentiras e grandes desimportâncias ao olhar de cada um. Um filme sobre nosso tempo. Herdeiro autêntico da tradição do mestre Brian De Palma...
Não sei se é apenas estereótipo, mas o fato é que países nórdicos são glorificados em boa parte do imaginário masculino por seu vanguardismo no trato da questão sexual. Loiras peitudas à parte, coincidentemente ou não, é comum aos filmes gays da área, tratarem a descoberta da homossexualidade de maneira completamente diversa da forma como tratam a maioria de seus pares latinos ou anglo-saxônicos. No lugar do conflito e do choque, prevalece um desconcertante naturalismo que encanta em grande medida pelo estranhamento causado. Fascinante...